As cantigas líricas medievais constituíam, inicialmente, atividades palacianas, cantadas para as damas dos castelos e palácios. Por essa razão, eram encaradas como hábitos aristocráticos, entoadas ao som de instrumentos denominados guitarras (século XIII) ou vihuela - viola espanhola (séculos XIV e XV), considerando-se um hábito de bom-gosto. Aos poucos, entretanto, foram extrapolando os muros dos palácios e mesclando-se com manifestações populares, entre as novas camadas sociais urbanas que se formavam. Em Portugal, no início do século XVI, o autor teatral Gil Vicente compôs peças que mostravam cenas do processo de popularização, como os autos Quem tem Farelos? e Auto de Inês Pereira . Esse processo, entretanto, crescia na mesma proporção de uma visão social preconceituosa. Os instrumentos também foram se modificando, surgindo uma variante simplificada da viola, tão difundida popularmente que, por volta de 1650, “D. Francisco Manuel de Melo já podia acusar a perda de prestígio do instrumento junto às pessoas de melhor qualificação da cidade, tão baixo descera seu uso na escala social (....) As novidades de uma música produzida pela gente do povo das cidades, para atender às expectativas do lazer urbano, estava nascendo em Portugal de Quinhentos. E, tal como mais tarde viria a confirmar-se no Brasil, essa música popular surgia como criação das camadas mais humildes dos negros e brancos pobres das cidades, talvez por isso mesmo chamados de patifes”. (Em: História Social da Música Popular Brasileira, de José R. Tinhorão). Felizmente, com os novos tempos, com a evolução dos valores morais da humanidade, com o reconhecimento paulatino dos direitos humanos e com a significativa presença de talentos pioneiros e posteriores, a visão preconceituosa foi cedendo espaço a uma apreciação positiva e democrática das manifestações musicais populares, especialmente da seresta, música que é capaz de irmanar as pessoas em mensagens de amor e fraternidade. |
||
|
Voltar à página
inicial dos AMIGOS EM SERESTA